terça-feira, 9 de março de 2010

Orientações para o simulado II

Conforme combinado, vou usar uma questão de vestibular para mostrar como se evita tropeços bobos. Mas ATENÇÃO, não estou sugerindo que tudo se resolve com macetes, dicas, manhas, etc. Se vocês não estudarem, não há milagres!

FUVEST 2010

"E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moeda para os reinos estranhos e a menor quantidade é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil..."
João Antonil. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, 1711.
Esta frase indica que as riquezas minerais da colônia:

a) produziram ruptura nas relações entre Brasil e Portugal.
b) foram utilizadas, em grande parte, para o cumprimento do Tratado de Methuen entre Portugal e Inglaterra.
c) prestaram-se, exclusivamente, aos interesses mercantilistas da França, da Inglaterra e da Alemanha.
d) foram desviadas, majoritariamente, para a Europa por meio do contrabando na região do rio da Prata.
e) possibilitaram os acordos com a Holanda que asseguraram a importação de escravos africanos.

 
Você, aluno ou aluna, leu o texto com cuidado. Viu que se trata de um escrito do século XVIII, que trata de Brasil e Portugal, ouro. Já se situou temporal e tematicamente. Mas é necessário ter certeza do que acabou de ler, buscar uma compreensão total.
O autor fala de ouro em pó e em moeda. Bom, moeda é usado em comércio e ouro em pó é sempre melhor para contrabandear, afinal, não foi derretido, transformado em lingotes e separado o Quinto. Então o autor está falando de comércio e contrabando, duas formas de se transferir riqueza não só entre Portugal e Brasil, como também com "reinos estranhos". Não se assuste, estranho é apenas fora do previsto, ou seja, qualquer reino que não fosse a metrópole era estranho.
Como aluno(a) atento(a) que é, vai ler alternativa por alternativa.
a) Ruptura? Alguém falou em ruputura, separação, quebra, rompimento, no texto? NÃO.
b) Tratado de Methuen? Putz, você não sabe lembra exatamente o que foi este tratado... Bom, pula para a próxima, mas fique atento(a).
c) De cara você precisa ficar atento(a): falou em "exclusivamente". Palavras como "sempre", "nunca", "exclusivo", são sempre perigosas. E porque seriam as riquezas minerais brasileiras exclusivamente para os interesses franceses, ingleses e alemães? Estamos em pleno Antigo Regime, monopólio e exclusivismo entre colônia e metrópole. Além disso, a Alemanha nem existe enquanto país ou reino nesta época.
d) Contrabando o texto fala que existia. Mas vamos lembrar do mapa da América do Sul e da Colonização Ibérica. Rio da Prata era território espanhol e fica um bocado longe das Minas Gerais. Ao mesmo tempo, Portugal tentava cercar e proteger a todo custo suas minas. O contrabando existia, mas não chegou a ser o caminho "majoritário" do ouro para a Europa e muito menos pelo Rio da Prata.
e) É verdade que os holandeses participavam do tráfego de escravos e também é verdade que os escravos eram comprados com o dinheiro conseguido nas Minas. Mas o gasto com mão-de-obra nunca, em nenhuma relação produtiva, pode ser o motivo do maior gasto de dinheiro. Senão não há porque produzir.
 
Bom, você continua não sabendo lembrando o que foi o Tratado de Methuen, mas já sabe que a alternativa B é a correta.
Para não passar em branco:
O Tratado de Methuen, também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um acordo assinado entre Inglaterra e Portugal, em 1703. Pelos seus termos, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e, em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal. Não se trata de um acordo de exclusividade ou um "decreto de dependência", mas marca a entrada dos produtos manufaturados ingleses no mercado português destacando a fragilidade de sua produção.
Com três artigos, é o texto mais reduzido da história diplomática européia:
 
I. Sua Majestade ElRey de Portugal promete tanto em Seu proprio Nome, como no de Seus Sucessores, de admitir para sempre daqui em diante no Reyno de Portugal os Panos de lãa, e mais fábricas de lanificio de Inglaterra, como era costume até o tempo que forão proibidos pelas Leys, não obstante qualquer condição em contrário.


II. He estipulado que Sua Sagrada e Real Magestade Britanica, em seu proprio Nome e no de Seus Sucessores será obrigada para sempre daqui em diante, de admitir na Grã Bretanha os Vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja Paz ou Guerra entre os Reynos de Inglaterra e de França), não se poderá exigir de Direitos de Alfândega nestes Vinhos, ou debaixo de qualquer outro título, directa ou indirectamente, ou sejam transportados para Inglaterra em Pipas, Toneis ou qualquer outra vasilha que seja mais o que se costuma pedir para igual quantidade, ou de medida de Vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do Doreito do costume. Porem, se em quaquer tempo esta dedução, ou abatimento de direitos, que será feito, como acima he declarado, for por algum modo infringido e prejudicado, Sua Sagrada Magestade Portugueza poderá, justa e legitimamente, proibir os Panos de lãa e todas as demais fabricas de lanificios de Inglaterra.

III. Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem, e tomão sobre si, que seus Amos acima mencionados ratificarão este Tratado, e que dentro do termo de dous meses se passarão as Ratificações.

Por hoje é só.

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