quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tempos de política

Em época de eleições falar de política parece algo quase natural, ou deveria ser. A princípio não temos como fugir da política, ela está em toda parte mediando as relações entre as pessoas, entre os grupos, entre os diversos interesses que compõem a sociedade. Como o consenso e a unânimidade muito raramente são alcançados a alternativa que temos hoje, em tempos democráticos, é a negociação política (leia-se: argumentação + convencimento da maioria) resolvida pela votação. Isto ocorre tanto na escolha dos representantes quanto entre eles depois de escolhidos por nós. Posto deste modo creio que não preciso salientar a importância de se votar com cuidado. Mas não é isso que quero discutir aqui.
Estamos começando a ver o período varguista, ou seja, os anos em que Getúlio Vargas esteve no poder continuamente entre 1930 e 1945. Estes 15 anos não foram homogêneos, pelo contrário, foram quase pendulares. Tivemos, em linhas gerais, um governo provisório resultado da Revolução de 1930 (e pós-crise de 1929) mais autoritário, depois um período constitucional que previa eleições, e, finalmente, um golpe iniciando o chamado Estado Novo e claramente ditatorial.
"Operários", de Tarsila do Amaral, pintado em 1933, é exemplo da crescente preocupação com as causas sociais e as agitações daí decorrentes. A artista foi considerada suspeita e presa posterioremente pelo governo Vargas.

Contudo, esta época desde a década de 1920 apresentava uma grande dose de violência política. A elite mais conservadora tentava barrar qualquer discussão mais socializante que atendesse reivindicações de trabalhadores e camadas mais pobres da sociedade, enquanto os operários buscavam sua força em movimentos de inspiração socialista, comunista ou anarquista. O coronelismo controlava o interior do país e nas cidades maiores a polícia "educava" aqueles mais descontentes. Quando então temos a Revolução de 1930 resultado da Aliança Liberal congregando classes médias urbanas, setores das forças armadas e grupos políticos de estados cansados do predomínio dos republicanos de São Paulo, Getúlio Vargas, enquanto líder do movimento, tinha como desafio torear os tenentes, os políticos regionais, os direitistas de inspiração fascista e os esquerdistas apoiados no proletariado.
Dá para imaginar a confusão que seria atender a todas as reivindicações! Então, como sair dessa? Apesar do "mito" construído em torno de Vargas, uma coisa é real: ele era um político muito habilidoso. Assim, ele optou por jogar os extremos um contra o outro - esquerda contra direita -, oferecer legislação trabalhista esvaziando as reivindicações dos sindicatos, e controlar (ou neutralizar) os grupos mais organizados. Com isso o Estado, e o próprio Vargas, se fortaleciam e permitiam quase qualquer medida autoritária como se tudo isso fosse necessário. Necessário para manter a ordem, necessário para manter os direitos trabalhistas, necessário para manter o país a salvo dos comunistas...
Complexo, não?

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