quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ecotudo

Por mais que a ecologia não seja uma bandeira ainda tão forte por aqui como é na França, na Alemanha e em outros países europeus, as pessoas já falam abusando do eco- alguma coisa. O Brasil definitivamente incorporou o discurso ecológico, mas infelizmente pouco se faz de efetivo no sentido de alcançar uma prática ecológica. Imagino que quase toda criança sabe dizer o que é "biodegradável", ou o que significa "reciclagem", e em breve o mesmo acontecerá com o termo "sustentabilidade" (atual vedete da publicidade!).
É bem comum confundir-se a incrível taxa de reciclagem das latinhas de alumínio com consciência ecológica. Neste caso em especial não se modificou nada, as latinhas só são recicladas porque representam uma possibilidade de renda para muitas famílias, não representando uma opção por uma forma de consumo mais sustentável.
O que poucas pessoas (considerando o universo cotidiano e não os estudiosos e ativistas) visualizam é que o tal "desenvolvimento sustentável" ou a "consciência ecológica" implicam em profunda modificação em nosso modo de vida. Para alguns seria uma autêntica revolução, pois questionaria toda a lógica liberal capitalista em que vivemos ao menos desde o século XIX.
Vejam o trecho de um interessante artigo de Cândido Grzybowski:
Aqui e agora precisamos transformar nossos ideais, modos de pensar e os sistemas políticos, econômicos e técnicos que sustentam o desenvolvimento. A ruptura tem de ser total, de ponta-cabeça. Passar de uma civilização industrial e produtivista para uma biocivilização, comprometida com a vida no planeta, implica verdadeira revolução.
A ruptura é espinhosa. O desenvolvimento está incrustado na gente, é um valor. Desenvolvimento lembra imediatamente progresso. E quem não quer progresso? O problema é que deixamos de discutir a qualidade de vida que nos traz o progresso.
Quanto de lixo, poluição e destruição estão associados a esse progresso?
Basta lembrar o carro, um dos protótipos atuais do modelo de desenvolvimento. As nossas cidades são desenhadas para eles e não para nós, cidadãs e cidadãos. E, no entanto, quase não andamos, por conta dos monumentais engarrafamentos.
Será que para viver bem precisamos sempre de mais? Ter mais e mais bens, trocados sempre porque estragam logo (feitos para não durar) ou pela compulsão, que o ideal nos impõe, de adquirir o último modelo. Isso só gera destruição em todo ciclo, da extração das matérias-primas ao lixão onde jogamos os bens em desuso. Já paramos para pensar quem está ganhando nessa história? (Grzybowski, Cândido. "Mudar mentalidades e práticas: um imperativo". In: Le Monde Diplomatique, 02.10.2009)
 Para o autor trata-se de recriar a atual civilização em novas bases ou, do contrário, nos "consumiremos". Mesmo segundo os menos "revolucionários", a única saída seria uma mudança radical nos nossos padrões culturais.
Numa leitura ingênua poderíamos nos perguntar mais uma vez a respeito dos 3 Rs do desenvolvimento sustentável: reduzir, reciclar e reutilizar. Como é possível reduzir e reutilizar se a cada minuto somos incentivados a consumir mais, a comprar mais, sempre em busca do mais novo, do mais moderno, do último lançamento?
Não por acaso o Colégio tem estimulado constantes reflexões desde as séries iniciais da escola e este ano voltaremos a trabalhar a temática em um projeto interdisciplinar com as 2as. séries do Ensino Médio.

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