quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Novas perspectivas?

A educação, em seu sentido amplo, é um bem entendido como universal pela sociedade contemporânea de modo que, numa sociedade democrática, todos se sintam no direito de opinar sobre o que deve ou deveria ser feito. E assim é de fato. Todos podem e devem opinar, pois defender e investir em educação trará sempre benefícios enormes para todos.
No entanto, este direito de falar não é garantia de qualidade. Digamos que este é mais um efeito colateral da democracia, temos que conviver não só com as opiniões contrárias às nossas, como também precisamos superar algumas surpresas.
Por exemplo, li a notícia abaixo:

Ensino médio não prepara aluno para o mercado, diz empresário

Minha leitura por palavra-chave identificou na mesma frase "Ensino Médio", "mercado" e "empresário". Na hora achei que deveria ler, afinal uma combinação dessas promete muitas emoções.
A declaração foi dada por ocasião da Sala Mundo Curitiba 2011, envento que reúne educadores de vários países. O empresário em questão é Marcos Magalhães, ex-presidente da Philips para o Brasil e a América Latina e atual presidente do Instituto de Co-responsabilidade pela Educação (ICE) que além do comentário da manchete afirmou que:
"Temos de repensar a grade", disse. Para ele, só deveriam ser obrigatórias as disciplinas de língua portuguesa, idiomas, matemática, física, química e biologia. História e geografia, por outro lado, deveriam ser eletivas. "Hoje o aluno que vai prestar vestibular para Engenharia perde tempo estudando filosofia. Se ele achar essa matéria importante, deveria ter a opção de cursá-la, não a obrigação."
Não nego que repensar o currículo é uma necessidade constante. O mundo muda e a escola não pode se manter com a mesma grade de 50 anos atrás. No entanto, a impressão que tenho é que o empresário espera transferir para as escolas um caráter formativo que não cabe a elas. É objetivo do Ensino Médio formar para o mercado? Alguém sai do EM profissionalizado? Este não é o papel dos cursos superiores ou técnicos?
Eu gostei particularmente da parte em que ele diz que um aluno que presta engenharia perde tempo estudando filosofia. Imagino também que alguém que vá prestar jornalismo estaria perdendo tempo estudando biologia. Estamos voltando a defender formações parciais? A quem cabe estudar o que, com quantos anos o aluno deve decidir o que estudar, que tipo de aluno vai estudar cada matéria...
Sou plenamente favorável a disciplinas eletivas ou optativas na escola, mas sem que isso implique em diminuir o básico. O ensino integral é uma necessidade cada vez mais urgente, mas penso que o ideal seria preencher o restante do dia com aprofundamentos, aí sim, optativos dentre um leque de alternativas.
Para encerrar, um último comentário. Engenheiro que estudou filosofia, história, geografia não perdeu tempo. Afinal, antes de ser engenheiro espera-se que o sujeito seja cidadão e consciente do mundo no qual vive. Do contrário, a escola deste empresário formará indivíduos semi-alienados, seres parciais treinados apenas para um tipo de compreensão da sociedade em que vivemos.

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